quarta-feira, 10 de junho de 2020

OS CAMINHOS DOS COMERCIANTES JUDEUS NO GRANDE MEYER (Parte1)

Ainda uma vez, fica estabelecida, como premissa inafastável, que o trabalho não tem a pretensão, a minúcia e o rigor de um historiador, limitando-se a revolver meu baú de memórias, sem consulta documental aprofundada.
Quando Steven Spielberg criou o projeto Shoah, a ideia central era de que, ao passar do tempo, as janelas estavam se fechando, com o falecimento ou com problemas de cognição dos que poderiam testemunhar, prestando depoimentos esclarecedores.
A léguas de estabelecer qualquer comparação, é com esse estado de espírito que vou rascunhando alguns textos, que considero  rigorosamente  “obras abertas” (não no sentido que os novelistas lhe emprestam), mas sujeitos a revisões, correções e, principalmente, pedindo a colaboração de todos que possam acrescentar algo aos trabalhos. Mesmo porque, em vários casos, não recordo, sequer, qual era a atividade desenvolvida em alguns comércios.
Desta vez  ao contrário do que ocorreu no texto sobre a Rua José Bonifácio – é inviável que eu me atenha, apenas, aos aspectos “geográficos”, na medida em que cada negócio, cada estabelecimento, tinha a geri-lo um (ou mais) ser (es) humano (s) plenamente identificado (s).

Isto confere realce ao apelo que faço, no sentido de que filhos ou netos daqueles batalhadores venham aperfeiçoar esse texto.


O critério inicial, porém, há de ser a localização de cada loja ou indústria, acoplando-se, em seguida, os nomes correspondentes. 
Como praticamente todos os imigrantes chegados ao Rio de Janeiro, entre o final dos anos de 1920 e os anos de 1950, o trabalho inicial era o do mascate, o nunca suficientemente louvado “clienteltchik”  atividade ambulante extremamente cansativa, ingrata, extenuante, em todos os aspectos. Na medida em que logravam um razoável êxito neste campo, surgia a ideia de se estabelecerem num local fixo, com maior estabilidade e segurança.
Alguns prestamistas, porém, preferiram continuar atuando desta forma por mais tempo e, a partir do mesmo êxito, enveredaram diretamente pelo campo da construção civil, adquirindo terrenos nos subúrbios, procedendo à construção de prédios pequenos (2, 3 ou 4 apartamentos), vendendo-os, adquirindo outros, e assim sucessivamente, sendo exemplo o que consta da foto abaixo.










É geralmente apregoado  embora sem rigor histórico – que a modalidade de vendas a prestação, praticamente inexistente no comércio tradicional, foi desenvolvida a partir do pioneirismo do “clientteltchik”. Importante salientar que a maioria das lojas criadas tinham, como atividade prioritária, a venda de móveis e eletrodomésticos, como rádios, geladeiras, ventiladores, e, mais tarde, televisores.
A partir do início dos anos 1960 – e acelerando-se nos subsequentes  a criação de grandes lojas de departamentos, manejando, também, a modalidade de vendas a prestação, fez refluir aquela espécie de comércio (muito embora alguns tenham permanecido até meados dos anos de 1980). Os desbravadores migraram para outros campos (com ênfase para o da construção civil, como frisado) ou foram se afastando por força da inexorabilidade do tempo e seus efeitos.
Com estas considerações, começo minha “peregrinação” pelos campos, por vezes traiçoeiros, de minhas memórias.  



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