domingo, 7 de junho de 2020

Grêmio Cultural e Esportivo do Centro Hebreu Brasileiro Chaim Weizman (uma 1a abordagem)

A pedido de Leonardo Sender

A minha visão só pode abranger o período subsequente ao ano de 1951, quando, ainda com 14 anos, passei a frequentar o Grêmio e, pouco depois, a integrar a Diretoria. Sei, apenas, que, durante um bom tempo, revezaram-se na presidência o Pinhas Schcolnik e o Jacob Zilberman.
O prédio, na Rua Lucídio Lago, 292, era a sede do Centro Hebreu Brasileiro Chaim Weizman e constituído, basicamente, por uma entidade comunitária, um colégio e o Grêmio do Meyer. O nome oficial era Grêmio Cultural e Esportivo do Centro Hebreu Brasileiro Chaim Weizman.
Apesar da existência de uma, ou mais, Sefer Torah numa sala, não tenho lembrança de atividades religiosas regulares  ou talvez eu não tenha notado . Mas, nas Grandes Festas, o salão de honra se convertia em sinagoga, com centenas de pessoas. Não havia um rabino, nem chazan, mas, algumas pessoas mais conhecedoras, funcionavam como tal.
O coração do Centro era o Colégio Chaim Nachman Bialik, transferido de sua sede original, na Rua José Veríssimo, 36. Contava com um número significativo de alunos, mas  pelo que me recordo – só no Curso primário. Durante muito tempo, o Diretor era o professor Moisés Fridman, auxiliado por sua esposa, a professora Tuba Fridman. O ensino era de muito boa qualidade, tanto que os alunos não encontravam dificuldades para prosseguirem, tanto em colégios judaicos (Ginásio Hebreu Brasileiro, Scholem Aleichem, etc.), quanto da comunidade maior (Pedro II, Instituto de Educação, etc.). Neste ponto, destaque para o Colégio 2 de Dezembro, que ficava na mesma Rua Lucídio Lago, com diretores e professores do Colégio Pedro II, e no qual o percentual de alunos judeus girava em torno de 10%, num universo de 2000 alunos.
Funcionava, em tal contexto, o Grêmio, que congregava os jovens do Meyer e arredores, desde o Riachuelo até o Encantado (onde passava a “imperar” a comunidade de Madureira). O Grêmio promovia o convívio em festas, bailes, palestras, atividades culturais, passeios, etc.
O baile de aniversário em 1956 foi um evento extraordinário, com quase 1000 pessoas dançando ao som da Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, uma das mais famosas do país. Em outros eventos, atuaram as bandas, igualmente famosas, de Waldemar Szpilman e Napoleão Tavares, mas, no dia-a-dia, atuava o “maestro Discolino”.
Em termos de palestras, ficaram famosas as de Flávio Cavalcanti, conhecido apresentador de televisão nos Programas “Um Instante, Maestro”, “Discos Impossíveis”, “Noite de Gala”; Paulo Roberto, um dos grandes nomes da Rádio Nacional em: “Um milhão de melodias”, “Obrigado, Doutor”, etc.; e Lamartine Babo, que, não satisfeito com a conversa, “emendou” até 4 da manhã num boteco que ficava em frente ao Centro.
Flávio Cavalcanti se apresentou no Grêmio, pouco após o evento do atentado da Rua Tonelero, ocorrido em 5 de agosto de 1954. A emboscada contra Carlos Lacerda precipitou a queda o o suicídio de Getúlio Vargas.
Como a Diretoria do Centro Hebreu Brasileiro Chaim Weizman era de pessoas da 1ª geração de imigrantes, as atividades esportivas não se apresentavam como prioritárias. Havia, porém, uma quadra poliesportiva  futebol de salão, vôlei e basquete , que era utilizada, também, pelos movimentos juvenis, principalmente Hashomer e Dror. Torneios de xadrez e tênis de mesa também tinham lugar.
O salão nobre era um dos maiores e melhores da comunidade, com um palco onde, em algumas oportunidades, apresentaram-se, inclusive, artistas estrangeiros do Teatro em Yiddish, que vinham em turnês ao Brasil. Foi memorável a noite protagonizada por Maurice (Morris) Schwartz, expoente do cinema norte-americano e não apenas em yiddish
A partir do final da década de 1950 e início da de 1960, a comunidade foi minguando, deslocando-se para a Tijuca e a Zonal Sul, com repercussão no número de alunos no colégio e o ingresso dos jovens na vida acadêmica ou profissional propriamente dita. Buscando evitar a perda do patrimônio tão duramente conseguido, foi ajustada uma fusão com o Ginásio Hebreu Brasileiro, mas que, infelizmente, não deteve a marcha inexorável dos tempos.
O prédio abrigou, por muitos anos, uma agência do INSS, e, hoje, é um supermercado. Entretanto, os que viveram aquela época sempre terão o Grêmio do Meyer na memória e no coração.

Um comentário:

  1. Na verdade o marido da Mathilde,o tão "suado desportista" do Gremio do Meier,Adolfinho para os amigões(acredito que todos !!!),apossou-se desta pagina,alias,formidavel,para dar um grande abraço no querido Davizinho- Dr. David Milech, alem de querer saber se ele continua andando com seu incomparavel guarda-chuva.Era a marca registrada do serio-gozador nas reuniões e funções sociais.
    Postei na minha pagina do Facebook "uma foto"que fixei do amigo,em 1958,no pateo interno do Gremio do Meier.

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